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Por trás das cortinas de uma palestra para +800 pessoas
Season Finale
A última vez que nos falamos por aqui foi há uns 20 dias, logo depois da palestra do Conexão Social Media. Naquela época, combinei que teríamos um hiato aqui na newsletter porque as coisas estavam especialmente caóticas.
Mal sabia eu o que estava por vir.
O dia que me tornei uma loja de flores (e action figures)
Sempre soube que acabaria contando essa história por aqui em algum momento. Só esperava que seria num contexto mais leve.
No começo de julho do ano passado, meu site foi alvo de agentes maliciosos — chamaria de hacker, mas o desenvolvedor que contratei disse que não — e, num belo dia, acordei com ele completamente em branco.
Zerado. Não havia nada para contar história.
No Google, quando eu pesquisava pelo meu nome, o site aparecia com caracteres japoneses.
Uma amiga e aluna, Lori Sato, pediu ajuda para seu tradutor/marido e me disse que eu havia me tornado uma loja de flores e de action figures.
Se você pensa que perder seu espaço numa rede social é desesperador, imagine a sensação de perder todo o seu site.
Pedi socorro recomendações de um desenvolvedor para um amigo e ex-colega de Rock Content. Foi ali que a situação foi se normalizando aos poucos.
O site foi recuperado, mas voltou com instabilidades que só foram corrigidas de fato em dezembro, após duas trocas de hospedagem.
Hoje, é tranquilo reviver tudo isso em memórias. Mas não gostaria de reviver esse tipo de drama.
Então, chegamos no último domingo: o fatídico 6 de agosto de 2023.
Um péssimo hábito que tenho é de entrar no LinkedIn pelo celular da mesma forma que a maioria das pessoas usaria um aplicativo de entretenimento. Às vezes, até mesmo antes do café da manhã.
Cliquei no app do LinkedIn e meu perfil estava deslogado. Isso nunca havia acontecido antes.
Corri para o computador e o perfil também havia de desconectado. Na tela para efetuar o login, o pesadelo foi decretado realidade.
O email de login para acessar minha conta, agora, tinha um novo domínio — e não era qualquer endereço, mas um domínio russo: “rambler.ru”.
Mesmo com a verificação em 2 etapas, o hacker conseguiu acessar minha conta, vincular um novo email e remover meus emails de lá.
Me lembrei da maldita loja de flores e pensei: maravilha, fui premiado de novo.
Logo nesse momento, tentei contato com o suporte e com todos os contatos que eu poderia tentar a sorte. No domingo mesmo, tive o retorno de duas pessoas: uma, por WhatsApp e outra, por email.
Mas só fui agraciado pelo suporte três dias depois, na quarta-feira.
Três dias que, sem toda a Novela Hacker, já teriam sido pesados.
Trabalhando nos bastidores do lançamento de um curso que abriria para vendas na terça à noite e com uma palestra para a Intel na quarta, acabei encontrando uma inteligência emocional que nem sabia que tinha para lidar com tudo isso.
E por mais que eu não acredite em destino, os eventos dessa semana foram tão absurdos que parecem parte de um roteiro elaborado — com muitas, mas MUITAS, complicações no segundo ato (né, Diego?).
Na segunda, meu perfil continuou intacto e, apesar de acessá-lo de hora em hora para me certificar disso, fiquei bem tranquilo.
Terça de manhã, a foto de perfil sumiu… a preocupação aumentou, mas o restante permanecia como antes e todos os conteúdos continuavam lá.
Com tudo organizado para a transmissão ao vivo que começaria às 20h, faltando uns 20 minutos para nos reunirmos no Zoom antes da audiência chegar, fui checar novamente meu perfil.
Só que meu perfil não era mais o meu perfil.
Amy Smith.
Esse era o novo Dimitri.
Se todos os filmes clichês de ação me ensinaram que eu deveria ter medo do domínio russo, provavelmente, o nome Amy nunca mais será o mesmo.
Todo o perfil editado, mais de 50 recomendações de clientes desaparecidas e todo o meu conteúdo deletado.
Eu deveria entrar antes na transmissão ao vivo para dar algumas orientações de suporte para a especialista que apresentaria a aula.
Não consegui.
Alguns minutos de ódio e desespero depois, decidi que tinha uma única opção: sem qualquer retorno do suporte, pelo menos, faria bastante barulho para as pessoas saberem do que estava acontecendo.
Na pior hipótese possível, se eu perdesse mesmo o perfil, começaria do zero com algum apoio. Na melhor hipótese possível, o barulho poderia influenciar para recuperar o perfil de alguma forma.
Fui para os stories, contei sobre a queridíssima Amy e pedi para as pessoas falarem sobre isso no LinkedIn.
O
, um dos meus melhores amigos nesse mundão de internet e o designer que sempre contrato quando preciso, foi a primeira pessoa a postar sobre. Usei o post dele de exemplo e isso começou um burburinho.O mesmo Maicon que, dias depois, fui descobrir que havia confrontado o hacker.
Ok, era um começo. Mas, se eu quisesse que as pessoas realmente comprassem a briga e compartilhassem aquilo com o mundo, eu precisaria dar algo mais compartilhável para elas.
E qual o formato que as pessoas mais compartilham hoje em dia?
Por volta de 23h, com uma bela dor de cabeça, tomei o terceiro analgésico do dia, um banho gelado e voltei para planejar o vídeo.
Não poderia deixar para o dia seguinte de forma alguma, porque a palestra para a Intel era às 14h. Estava praticamente pronta, mas faltava ajustar uns detalhes finais para personalizar a entrega ao máximo.
E se eu investisse energia demais na Novela Hacker no dia seguinte, não teria foco e, talvez, nem inteligência emocional para a palestra.
No banho mesmo, defini os pontos mais importantes que não poderiam faltar no vídeo. No mais, era resumir a Novela Hacker ao máximo para não entediar as pessoas antes de encerrar pedindo para elas compartilharem.
Vídeo gravado, edição no jeito e já deixei tudo engatilhado para quarta de manhã.
Fui dormir às 2h e, cinco horas depois, estava de pé de novo para escrever a legenda e soltar essa criança para o mundo.
O desafio, então, foi conseguir virar a chave.
A cada 5 minutos, alguém me perguntava se o perfil estava de volta, se eu tinha a verificação em 2 etapas ativada, se eu tinha… tentado trocar minha senha.
A cada 7 minutos, a ansiedade me dizia para checar minha caixa de entrada para ver se o suporte havia resolvido dar as caras.
Nada.
Até 10:09, quando recebi um link para confirmar que eu era realmente eu, compartilhando a foto de um documento.
Algumas mensagens trocadas nas horas seguintes e, por volta de 12:30, consegui acessar novamente meu perfil.
Praticamente zerado e substituído pela Amy Smith, mas estava novamente logado — depois de 3 dias que pareceram um mês de tensão.
Finalizei os ajustes para a palestra sabendo que estava caminhando para recuperar meu perfil e precisei abrir a apresentação contando sobre todo esse caos.
Não apenas deu tudo certo, como saí dali com a certeza que tinha acabado de fazer minha melhor entrega in company de todas e validar um novo produto que vinha construindo.
Porque essa palestra é personalizável para ajustar para outras empresas e ainda tem a opção de estendê-la para o formato de um treinamento de algumas semanas.
Algum palpite do tema?
Perfil recuperado, transmissão ao vivo com um pico de 189 pessoas participando e palestra entregue. Meus conteúdos continuavam desaparecidos, mas o restante caminhava para a normalidade.
Parecia um final feliz.
Foi então que, à noite, notei que o número de seguidores estava diminuindo.
Foi de 99 mil para 97.
Depois, 92.
75.
Decidi escrever uma nova mensagem para o suporte sobre isso. Enquanto escrevia, despencou para 72.
Quando fui dormir, estava em 50 e acordei com 13 mil seguidores.
Lá vamos nós de novo…
Por sorte (ou ação do suporte), ontem à noite, esse número fez o caminho contrário à noite.
Fui dormir com 99 mil seguidores.
Acordei com 100.
Precisava mesmo de tanta reviravolta para chegar nessa marca de 100 mil seguidores?
O roteirista pegou pesado.
Depois de perder acesso ao perfil no domingo e entender que não poderia fazer nada, fui ver Barbie e vivi boa parte desse drama dos últimos dias foi com I’m just Ken na cabeça.
Aliás, a próxima edição merecia um tema (e uma semana) mais leve.
Tô pensando falar sobre o filme, hein? Ou será que o hype ainda tá muito alto e é melhor esperar?
1. A mesma Lori Sato, que me ajudou a decifrar que eu havia me tornado uma loja de flores, está lançando um livro hoje sobre Inteligência Artificial e o ChatGPT. Achei o título genial. [Veja aqui]
2. A Inteligência Artificial lançou a melhor música “do Arctic Monkeys” desde o saudoso AM, de 2013: um cover de… adivinha? I’m just Ken.
Já chamei o hacker no canto, aqui a gente não deixa passar não.
Legal você contar o quanto não foi fácil lidar com tudo. Parabéns por, mesmo assim, fazer uma boa palestra e ainda demonstrar o quanto sua comunidade é engajada e fiel na hora de fazer barulho.
Ps: fala sobre Barbie, sim!