Quando o "Marketing de Conteúdo" vai tão longe que estraga filmes
Tudo em nome dos cliques?
Essa pauta passou um tempo guardada entre minha lista de ideias e, depois, o rascunho também passou um tempinho no Google Docs.
No começo dessa semana, uma das minhas novas séries preferidas de todos os tempos — falaremos sobre ela mais para baixo — estava prestes a se encerrar. Então, o YouTube me sugeriu um vídeo sobre teorias de como ela terminaria.
Não só evitei clicar, como também me bateu um leve ranço instantâneo como se estivesse ouvindo alguém dizer asneiras sobre algo que admiro muito.
Nesse fechar de YouTube, vi que era hora de resgatar esse tema para conversarmos sobre.
Quando você pensa em temas que podemos escrever sobre filmes, quais as primeiras opções que vêm em sua mente?
Sinopse, resenha, recomendação, crítica, análise, lições, algo mais?
Quando a remuneração é por número de visualizações, arrisco dizer que o gênero sobre filmes que traz o melhor retorno não é nenhum desses.
Especulações, teorias e qualquer pauta que crie expectativas em torno de algo prestes a ser lançado são quase imbatíveis.
Não vou entrar no mérito de citar canais que investem nisso como estratégia. Basta uma pesquisa sobre teorias de filmes e séries no YouTube para você ver que existem aos montes e mais: com números de visualizações absurdos.
Nessas horas, o sensacionalismo paga boletos e, até aí, não temos novidades — isso vem antes da internet.
Então, qual o fato novo?
Um filme roteirizado por fãs?
Mesmo que não tenha assistido, você provavelmente se lembra da febre no fim de 2021 com o filme “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”.
Aliás, fico feliz demais por ter visto no auge do hype nos cinemas.
O filme é uma obra-prima? Não, longe disso.
Mas a comunhão do público com o filme foi algo que não me recordo de ter vivenciado antes numa sala de cinema.
Então, ainda nas cenas pós-créditos, chegou a vez de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
Um filme que fico muito feliz de só ter visto depois que o hype abaixou, longe dos cinemas.
Também não é uma obra-prima. Longe disso.
Mas longe também do desastre que a crítica parecia apontar e, principalmente, muito longe do desastre que os criadores de conteúdo desenharam.
Naquele momento, a empolgação parece ter saído das salas de cinema, transformou-se em expectativa e não demorou muito para dar vida a um festival de teorias e boatos em forma de conteúdo.
A febre do momento era teorizar quais participações especiais aconteceriam no novo filme, seguindo os moldes da reunião de Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland.
Participações especiais, como Tom Cruise na pele do Homem de Ferro, eram tidas como certas e, com os portais de notícias e o YouTube monetizando por cliques e visualizações, o sensacionalismo paga muito mais que boletos nessas horas.
Quanto mais teorias, melhor. E como as teorias foram entregues no último Homem Aranha, parece que as pessoas se dedicaram ainda mais em sua criação.
Sabe aquela frase “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”?
Depois de tantas repetições de teorias veiculadas em tantos canais diferentes, as teorias e os rumores pareciam parte do roteiro.
Mas só pareciam.
Porque o roteiro, em Dr. Estranho, não seguiu os moldes do seu antecessor. Somente as expectativas foram criadas pelos fãs.
E sejamos sinceros, por mais incrível que o filme fosse, era quase impossível que ele entregasse tudo o que os boatos depositaram nele — e cobraram depois.
Os mesmos criadores de conteúdo que lançaram boatos, depois, ainda têm a oportunidade de dizer o que faltou no filme e o trabalho é ainda mais fácil nessa hora.
Basta analisar as teorias que renderam mais visualizações e repeti-las.
Se o filme te decepcionou, tem boas chances da culpa não ser da produção.
Essa decepção foi criada e cultivada por nós mesmos, que insistimos em consumir sensacionalismos.
Filmes medíocres com trailers incríveis, lembro de vários exemplos — alô, “Esquadrão Suicida”.
Agora, um filme que faz jus ao trailer arruinado pelo “Marketing de Conteúdo”?
Não me lembro de outro caso, e você?
E a principal pergunta: depois de acontecer com Dr. Estranho, será que esse fenômeno se torna frequente e arruina novos filmes?
Quando a expectativa estiver muito grande, fuja para as colinas, fuja do YouTube ou corra logo para a sala de cinema — para preservar sua experiência com o filme.
Que série, senhoras e senhores! Que série.
Para mim, a melhor série de todos os tempos que já vi é Breaking Bad — de longe.
Só revi duas séries na íntegra até hoje. Uma delas foi Breaking Bad e a outra, para você que ficou curioso, é How I Met Your Mother.
Quando Better Call Saul começou como um spin off, tive bastante receio que fosse apenas uma nova forma de querer lucrar com o universo de Breaking Bad e que não faria jus ao que acontece na série.
Um dia depois do último episódio sair, é assustador o que os roteiristas conseguiram fazer.
Num universo com vários personagens complexos e com um enredo muito bem amarrado, eles conseguiram explorar um coadjuvante da série a ponto de transformá-lo no personagem mais complexo de todo o universo de Breaking Bad.
E ouso dizer que a última temporada de Better Call Saul é a melhor temporada final de uma série que já vi.
Alguns acontecimentos, inclusive, mudam o significado de eventos que acontecem em Breaking Bad e conseguiram fechar indo além do óbvio.
Se você gosta de toda a história do Walter White e ainda não assistiu, faça esse favor para si mesmo. Você não vai se arrepender.
E se você trabalha na Netflix e quer patrocinar essa newsletter, é só responder essa mensagem — não custa tentar, né? 😅
Tá em busca de dicas de podcasts?
Decidi fazer um teste.
Costumo escutar podcasts na rua ou na academia, em situações que geralmente não tenho wi-fi. Então, mantenho uma playlist configurada para baixar e adiciono os podcasts que pretendo ouvir nos próximos dias nela.
Se você quiser escutar os mesmos podcasts que separei para mim, é só clicar aqui.
Um pouco stalker? Talvez.
Mas eu já procurei muito por recomendações de podcasts há mais tempo e, talvez, gostaria bastante de encontrar uma iniciativa como essa.
Uma nova obsessão musical
São músicas como algumas de Jack Savoretti que batizaram essa newsletter.
A versão dele de Human, do The Killers, passou alguns dias em loop por aqui. E antes dela, essa versão ao vivo de Soldier’s Eyes também repetiu muitas vezes nos meus fones de ouvido, inclusive agora enquanto escrevo esta newsletter.
É só clicar no nome das músicas aqui em cima para conferir e sinta-se em casa para me contar o que achou depois :)
Um abraço e até breve,
PS.: quero só ver se alguém vai pegar a referência no subtítulo “Tudo em nome dos cliques?” 👀
Prefiro "What more can I do".
Tudo em nome dos cliques? Black Mirror? Episódio das pontuações com a madrinha de casamento?
Não assisto muito, só os mais recomendados, de curiosidade.