Edições anteriores da Escreva sua Marca:
A sutil arte de se vender sem vender a alma
Calças jeans, calanques e caminhos inusitados
Um dos melhores amigos que ganhei na engenharia me preparou para o marketing de uma forma que jamais imaginaria.
Ao contar qualquer história ou piada, ele tinha o hábito de aumentar muito a dimensão dos acontecimentos e, quando começamos a notar isso, a coisa tomou uma proporção cômica.
Como imaginávamos que ele aumentaria naturalmente as histórias, parece que virou um desafio e os eventos se tornavam mais absurdos.
Não demorou muito para criarmos uma espécie de lei: sempre que ele começava a contar qualquer coisa, alguém anunciava: divide por 7!
Se ele contava de uma festa com 70 pessoas, na verdade, eram 10.
Se tivesse uma disputada de quem bebe mais copos de chopp, ele somaria 7, quando, na verdade, ainda estaria no primeiro.
Se te convidasse para sair e dissesse que te apresentaria alguém, você poderia arredondar para baixo e desistir da ideia. Não haveria ninguém.
Sempre divida por 7. Essa era a lei.
Entendeu onde quero chegar?
Na hora de se posicionar e tentar fazer algum barulho, o papel, a bio do Instagram e o título do LinkedIn aceitam qualquer coisa.
Independente da realidade, da prática e de valores, muita gente leva a ideia de fingir até ser real (fake it until you make it) muito a sério e atropela as etapas.
É fácil manipular a realidade, trabalhar com meias verdades e não demora muito para criar uma marionete de si próprio.
Enquanto a versão original trabalha nos bastidores e arquiteta cada movimento, é a marionete que as pessoas conhecerão.
Ninguém escapa desse processo, nem você e nem eu. Esse texto, por exemplo, não passa de um movimento da minha marionete.
Na melhor das hipóteses, somos personagens de nós mesmos.
Na pior, o fake it until you make it pode ir um pouco longe.
O homem que sabia javanês, de Lima Barreto, se torna especialista em um idioma porque ninguém mais conhecia aquela língua.
Agora, ficou fácil inventar seu próprio javanês.
Você logo se torna pioneiro e criador, com direito a um trade mark para transmitir mais seriedade — mesmo que não passe de um emoji: Especialista em Javanês ™️.
Na dúvida, sempre divida por 7.
Especialmente quando o assunto traz números.
Nada vai te fazer escalar seu negócio e aumentar seu faturamento quanto prometer escalar o negócio e aumentar o faturamento de outras pessoas.
Então, chega a pressa de atropelar etapas e o combo fica completo: Especialista em javanês ™️ com milhões de faturamento.
Se não houver faturamento algum, nem a regra de dividir por 7 resolve.
Quando der certo, o próximo passo está pronto: 1º formador de especialistas em Javanês ™️ | Ganhe milhões ensinando Javanês ™️.
Agora, você pode ser pioneiro em formar pioneiros.
Antes, o empreendedorismo de palco precisava de um palco físico e de um público cara a cara.
Hoje em dia, você pode construir seu palco online, ou inventá-lo.
Muitas vezes, não passa de um belo jogo de luzes para compor o kit da marionete.
Basta olhar um pouco mais de longe para notar: o palco é uma ilusão.
Não sejamos levianos para dizer que construir toda essa ilusão não funciona.
Porém, se for por esse caminho, esteja preparado para pensar e calcular rápido, para multiplicar todos os seus próximos passos por 7.
Não sei você, mas eu não confio tanto assim na tabuada do 7. Pode começar simples, mas, dependendo do número ou contexto, ela pode ficar bem capciosa e te fazer errar alguma conta.
Então, a situação se inverte.
A marionete apresentada ao mundo passa a coordenar e comandar cada um dos seus movimentos.
Se a versão online é um personagem, a original se torna uma caricatura da marionete: uma sombra do que já foi ou poderia ser, completamente distante de sua essência e do que a fez começar, mas que se tornou viciada.
Tão viciada no processo de se multiplicar por 7 que, ao olhar para o espelho, enxerga apenas a marionete.
Tudo porque insistiu em primeiros passos tão longos que precisou caminhar com pernas que não existem. Depois, desaprendeu a caminhar com as próprias pernas.
Na dúvida, sempre divida por 7.
Tanto a marionete, quanto o palco, quanto seus primeiros passos.
Há quem tenha facilidade com a tabuada do 7.
Há quem tenha mais facilidade em escrever ficção.
Não sei você, mas sempre achei que escrever não ficção é muito mais fácil.
Por isso, prefiro não trabalhar com migués. Mas Ayn Rand disse isso de forma um pouco mais elegante:
“As pessoas acham que o mentiroso triunfa sobre suas vítimas. O que aprendi é que uma mentira é um ato de autoabdicação, porque quem mente entrega a sua realidade à pessoa para quem a mentira se dirige, tornando-se um servo daquele indivíduo, ficando condenado dali em diante a falsear a realidade tal qual ele exige.”
— Ayn Rand
Há algum tempo, o
teve a ideia genial de publicar artigos no LinkedIn com mini playlists que serviriam de trilha sonora.Vez ou outra, encaixo a trilha sonora logo no texto, mas não é sempre que há um encaixe tão perfeito quanto esse.
O texto de hoje tá longe de ser um texto leve. Se quiser deixá-lo um pouco mais suave, essa música pode ser praticamente um hino para a nossa lei: na dúvida, sempre divida por 7.
“Smells like Bullshit”, do Beans on Toast.
1. "Eu optei por viver. Viver o momento, de forma tranquila. Eu sou um cara que penso no amanhã, mas eu não deito pra dormir com os problemas de amanhã. Se você viver pensando no amanhã, fica doente. Precisa pisar mais no freio e menos no acelerador."
Esse é um trecho da última edição da
, newsletter do Esdras Pereira. 4 anos atrás, ele conheceu a história do Luciano, um coletor que encontrou nos livros jogados fora uma fonte de conhecimento, e fez questão de escrever sobre ele.Agora, resgatou esse encontro numa nova entrevista e compartilhou tudo na sua newsletter.
2. Tem boas chances de você estar refletindo nesse exato momento sobre começar algo ou não. Talvez, fazer uma mudança ou não.
E a dúvida não costuma ser se queremos aquilo de fato, mas se queremos aquilo para sempre.
Essa foi a discussão maravilhosa que o
levantou em sua última edição, “A semprerização que emperra a nossa vida”.Um abraço e até a próxima,
Mais um artigo sensacional, Dimi! Quanta cortina de fumaça existe por aí, hein?! A verdade é para os fortes. Amei. <3
Adorei a honestidade aqui "Esse texto, por exemplo, não passa de um movimento da minha marionete."
E a citação do Ayn Rand foi para o meu bloquinho :)
Ótima edição, Dimi!