Edições anteriores da Escreva sua Marca:
A Fábula da Escada Proibida
A tão sonhada (e maldita) Chancela de Escritor
É tanto discurso motivacional de “vá em frente” e “não desista” que, às vezes, pode parecer que desistir, encerrar ciclos e fechar portas não são opções.
O detalhe é que entender a hora certa de deixar de insistir em algo pode ser tão importante quanto a coragem de assumir riscos e começar algo inédito.
Se você passou por alguma mudança drástica para começar algo novo e precisou deixar algo para trás, aposto que sabe como funciona.
Boa parte das pessoas ignora o novo e te pergunta: então você vai desistir do velho?
Escutei isso pela primeira vez quando me formei em engenharia e comecei a trabalhar com marketing. Ouvi de novo quando estava bem na Rock Content e decidi apostar todas as minhas fichas na minha marca pessoal.
E voltei a ouvir quando anunciei que deixaria a agência de influência que fundei e, tenho certeza, vou ouvir mais vezes.
Faz parte do jogo e, por mais que boa parte dessas pessoas talvez não enxergue fechar portas como opção, também entendo que elas acabam se apegando ao velho conhecido.
Mas tão problemático quanto desistir de primeira é não desistir nunca.
As pessoas vão sempre te perguntar “quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”, mas quando você fez algo que já não te fazia bem pela última vez?
Saber a hora certa de sair pela porta da frente é preservar o que houve de bom. É bater a porta, trancar e manter a chave no chaveiro por apego emocional.
Acredito que foi em How I Met Your Mother, após o término de um casal, que disseram que não era um relacionamento que deu errado. Mas um relacionamento que deu muito certo por um tempo limitado.
Talvez, algum dia, você até arrisque voltar pela nostalgia. Talvez não.
Quem sabe você encontra as portas abertas.
Ou não. Talvez, você descubra que as fechaduras foram trocadas logo após sua saída — e a única utilidade da chave é mesmo o apego emocional, mas um apego emocional a uma porta que você não pode mais abrir.
E você finalmente entende que aquela chave era justamente o que te fazia não abrir novas portas.
Leve e inofensiva, parecia não ocupar espaço algum, mas basta tirá-la e novas portas se abrem com mais facilidade. Porque você só começa algo novo de verdade quando se desprende de algo velho.
Para entrarmos de vez na contramão do discurso motivacional do “não desista”, acredito que tem boas chances de você conhecer o ator Tom Hardy. Mas talvez não conheça o filme Bronson, onde ele interpreta um dos mais perigosos e excêntricos criminosos de todos os tempos.
Enquanto se preparava para o papel, Tom Hardy conversou bastante com Bronson para entender como interpretar o criminoso nos mínimos detalhes. Numa dessas conversas, o ator havia acabado de terminar um relacionamento e decidiu confessar como se sentia.
— Não estou confortável, estou me despedindo de alguém que realmente amei. Não estou feliz, não estou bem. Não consigo ficar com uma mulher e, no entanto, não consigo ficar sem uma...
A resposta de Bronson ajuda a justificar o porquê do fascínio de se fazer um filme sobre um criminoso como ele:
— Você se lembra das inundações que aconteceram em Oxford? Lembra daquele garoto que ficou com o pé preso na grade, e o rio continuava subindo, e continuava subindo, e continuava subindo, e eventualmente tentaram tirá-lo, mas ele se afogou?
O ator confirmou que se lembrava e ele continuou:
— Bem, isso não teria acontecido comigo. Quer saber por quê?
Tom disse que sim e ele concluiu:
— Porque eu teria dito: corta fora agora.
Depois amarrou sua ideia para explicar que, às vezes, você tem que cortar um pedaço de si mesmo, não importa o quanto doa, para poder crescer.
Para poder seguir em frente.
A coragem de não desistir pode encher seu chaveiro de chaves que não abrem mais portas e pode fazer a água subir mais do que deveria.
Às vezes, o “vá em frente” — o Keep Going — fica melhor mesmo como slogan de whisky e a coragem de verdade está em fechar a porta, atirar a chave fora e abrir espaço para seguir em frente.
1. "Quanto mais influentes as pessoas se tornam no LinkedIn, mais preocupadas elas ficam consigo mesmas e menos com os outros" — essa frase solta pode parecer mera especulação, mas é um dos achados da dissertação de mestrado da Angelica Mari, focada no papel do ego na construção de influência no LinkedIn.
Se você não se sente tão à vontade de falar sobre seus feitos e conquistas para se vender, é provável que seu incômodo tenha a ver com esse sentimento de que a maioria das pessoas olha demais para seu próprio umbigo.
Um incômodo que a Angélica escreveu sobre em seu artigo, “Sobre o drama de realizar coisas - e falar sobre elas no LinkedIn”, e que eu compartilho muito.
2. Existe uma estratégia mania no mercado digital que ganhou muita força: dar um novo nome para algo antigo, colocar numa embalagem brilhante e vender como se fosse uma criação sua.
Não é à toa que todo dia alguém lança um novo método ou uma nova profissão que promete mudar o rumo de tudo o que conhecemos.
Se eu fosse batizar um copywriter contador de histórias, por exemplo, poderia chamá-lo de CopyTeller e dizer que criei uma nova profissão. Mas, se você me acompanha há mais tempo, sabe que prefiro não trabalhar com migués.
O Tito Singer escreveu um post sobre isso e disse que anda se sentindo deslocado como profissional de marketing, por ainda não ter inventado uma teoria para chamar de sua.
Assino embaixo de cada palavra que ele escreveu e você pode conferir aqui.
3. Uma empresa gringa que costuma fazer listas de principais criadores de conteúdo, Favikon, fez a primeira edição brasileira com os 200 principais criadores de todos os nichos possíveis do LinkedIn Brasil e descobri que tô entre eles.
Nesse post, você confere a lista na íntegra e, para poupar seu tempo, separei um print do meu card.
Um abraço e até breve,
Dimi, acho que uma das coisas que mais admiro na sua newsletter é o fato de você, conscientemente ou não, construir uma linha do tempo. Parece que as edições, de modo geral, se conversam. E isso mantém um flow que abre o apetite pra esperar o que vem por aí na sequência.
PS - esse seu texto me fez lembrar Clarice numa das construções mais belíssimas dela:
"A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta é a glória própria de minha condição.
A desistência é uma revelação.
Desisto, e terei sido a pessoa humana – é só no pior de minha condição que esta é assumida como o meu destino. Existir exige de mim o grande sacrifício de não ter força, desisto, e eis que na mão fraca o mundo cabe. Desisto, e para a minha pobreza humana abre-se a única alegria que me é dado ter, a alegria humana."
Sabe quando você já sabe de uma coisa, mas precisa ouvir (ou ler) outra pessoa dizer com as palavras certas? Foi como esse texto chegou por aqui. Mais nada a dizer! Parabéns!!!