Edições anteriores da Escreva sua Marca:
Você prefere ser fórmula ou memória?
Uma geração de escritores sem voz
Não sei você, mas sempre tive um pé atrás com a ideia de personagem público.
Aquela figura que a gente cria pra habitar as redes. Que sorri na hora certa, responde com educação, sabe o que dizer e o que evitar.
Em 2024, esse personagem me levou o mais próximo que estive de um cancelamento.
Fazia alguns meses que não publicava no LinkedIn. Era o início de um “sabático digital” que acabei vivendo, mas precisava divulgar uma parceria de permuta que fechei pra registro da marca “Escreva sua Marca”.
E se você já ficou um tempo sem publicar, sabe: o algoritmo não perdoa.
Foi aí que resolvi fazer um post “um pouquinho mais polêmico”.
Falei sobre o selo de Top Voice neste vídeo e como ele perdeu valor ao longo dos anos. Antes era um evento anual, com poucos nomes na lista e uma expectativa enorme pela divulgação oficial.
A minha lista, de 2019, foi parar na Forbes. A última lista de 2025… não teve.
Hoje, o título é entregue em silêncio, sem lista, sem contexto e sem muito impacto — apenas a entrega do selo.
E pronto, a pessoa que se vire pra divulgar.
Quando postei o vídeo, pensei que a própria equipe do LinkedIn poderia se incomodar e poderia me render alguma dor de cabeça.
Mas o incômodo veio de outro lugar.
Ego de cristal?
A crítica veio dos próprios Top Voices, de todas as gerações possíveis (2016, 2018, 2019, 2020 e da era do selo).
Gente que viu meu vídeo e não gostou nada de ver o título virar alvo. Porque, quando você critica um selo, parece que está criticando quem carrega ele.
O vídeo circulou em grupos de networking, grupos de engajamento e grupos de "troco like se você comentar". Grupos que eu costumo evitar porque não curto tanto esse estilo de permuta de interações.
Dessa vez, fui parar lá sem nem querer.
Recebi prints.
Recebi mensagens.
Vi meu nome em conversas onde nunca fui convidado. Frases que diziam que eu estava com inveja, que minha relevância tinha passado, que aquilo era birra de quem queria estar na lista e não estava.
Teve quem dissesse que eu tinha sido esquecido. Quem apostou que eu só critiquei porque queria aparecer. E teve também quem puxou o gatilho da raiva só porque eu mexi num símbolo que ainda significava muito pra eles.
Lembro que um deles escreveu:
“Se alguém aqui for amigo dele, tira print disso” — e começou um festival de ataques pessoais, julgamentos categóricos e diagnósticos profundos sobre mim, feitos com base em um único vídeo.
Fiquei surpreso com a recepção de algumas pessoas, decepcionado pela reação de outras e teve até uma pessoa gigantesca no LinkedIn que me chamou no privado — para parabenizar pela coragem de falar sobre aquilo, dizendo que ele próprio não falaria, mas que concordava comigo.
Apesar da dor de cabeça que me rendeu, te falo que essas pessoas têm todo o direito de reagir assim (tirando alguns ataques mais pessoais).
Esse episódio foi uma aula prática de um conceito que me economizou alguns remédios pra dor de cabeça na época: uma espécie de dissociação.
A paz por trás do personagem
Todo conteúdo é uma edição e todo recorte, por definição, é uma forma de personagem.
O Dimitri que escreve, publica e aparece nas redes é um recorte. Um alter ego.
E aqui talvez alguém torça o nariz: “ah, mas não pode ser personagem, tem que ser autêntico”.
O problema nunca foi ser personagem. O problema é ser personagem e não saber.
Pode ser baseado em fatos reais. E eu recomendo que seja.
Pode não ser. Se você souber lidar com isso, tudo bem também.
Mas, a partir do momento em que você entende essa distinção, você ganha duas coisas que as pessoas dificilmente tiram de você:
autonomia;
paz.
Você para de levar tudo pro pessoal.
Você não vira refém da crítica, nem do elogio.
Aquele personagem que chegou nos grupos atacou algo valioso pras pessoas.
Elas atacaram ele de volta.
Em momentos assim, me lembro do Eminem e do Slim Shady; da Beyoncé e da Sasha Fierce; 2Pac e Makaveli; David Bowie e Ziggy Stardust; Kobe Bryant e Black Mamba.
Todos eles entenderam algo que muita gente resiste em aceitar: criar um alter ego não é mentir sobre quem você é.
É proteger quem você é, enquanto cumpre o papel que precisa cumprir.
Slim Shady podia dizer o que Marshall Mathers não tinha coragem.
Sasha Fierce subia no palco quando Beyoncé duvidava da própria presença.
Ziggy Stardust encarnava o extraterrestre pro David Bowie explorar os limites da própria humanidade.
Black Mamba entrava em quadra com uma frieza que Kobe, fora dali, talvez não alcançasse.
Eles criaram personagens pra performar, não pra encenar.
E nunca esqueceram quem eram fora do palco.
Esse é o ponto.
Você pode, sim, ter um personagem online, desde que saiba descer do palco no fim do dia.
Desde que lembre que todo avatar é só um avatar.
O problema começa quando esquecemos que é só figurino. Quando passa a acreditar que o avatar é o ser completo.
Quando o personagem ganha vida e começa a nos controlar (já falei sobre isso quando escrevi sobre a marionete, a caricatura e o especialista em javanês).
Nessas horas, até uma crítica a um selo vira ataque pessoal.
Nesse experimento, descobri que não quero ser personagem fixo.
Se precisar voltar ao personagem que critica o selo, tudo bem (até compartilhei esse vídeo ontem de novo).
Mas prefiro ser autor.
Porque quem escreve os próprios papéis corre menos risco de ser cortado do elenco.
1. Faz um tempo que o conceito de alter ego me fascina e, recentemente, descobri um livro do Todd Herman sobre isso: The Alter Ego Effect.
Como meu trabalho de ghostwriter tem muito isso de assumir outros personagens e outros alter egos, além de mim, resolvi me aprofundar e comprei o audiobook.
A ideia do livro é te ensinar a criar um alter ego para transformar sua vida. Tem um “quê” de auto-ajuda motivacional bem forte, eu sei, mas vai tão fundo nessa linha não. E ainda tem muitos fundamentos de Storytelling.
Foi uma bela surpresa.
Talvez, eu fale mais sobre ele e como tem me ajudado a criar conteúdo (não apenas pra mim).
2. A Helena Almeida foi uma grata surpresa que o LinkedIn me apresentou esse ano.
Os conteúdos dela costumam trazer um lado mais filosófico e poético — cada vez mais raros no LinkedIn.
Já vi posts dela falando sobre reflexões simples, sobre livros mais complexos e raros de se ver nas redes (“Realismo Capitalista”), até reflexões profundas que parecem simples pela forma como ela construiu.
Esse post é um ótimo exemplo disso, sobre o prefixo “co”, a evolução e uma bela representação visual.
Se gostar do conteúdo da Helena, manda um alô pra ela por mim e diz que chegou pela newsletter? :)
Um abraço e até a próxima,
Caramba, Dimi, lembro desse vídeo e não sabia que tinha gerado esse tipo de reação.
Claramente, a crítica era a quem atribui os selos, e não a quem recebe.
Mas ainda bem que não deixou isso te afetar.
Sobre ser personagem, acho que não precisa ser o oposto de ser autêntico. É sobre, como você falou, "recortar" uma parte de si para tornar pública. Essa parte, sozinha, não é você.
Ps: faltou a Hanna Montana nas referências! 😂
E quando a gente descobre que nosso alter ego é quem a gente sempre foi de verdade? 😅
Recentemente passei por um processo profundo de autoconhecimento e fiz uma espécie de "rebranding" pessoal. Percebi que Ana Luisa Hernandes era só uma roupa bonita que eu vestia pra parecer mais séria, adulta, mas que, por dentro, sou a Luli Costa, com sua leveza, bom humor, espontaneidade e por aí vai.
Luli é um apelido meu de infância e é como a maioria das pessoas próximas me conhecem. O que pode representar mais a minha essência do que isso?
Tô muito feliz de ter tomado essa decisão e bem mais em paz comigo mesma agora. Por esse meu causo, me identifiquei bastante com essa sua news.
Sobre o texto, lamento que isso tenha acontecido contigo, mas quem te conhece de verdade, a sua essência, sabe que você é maior que qualquer selo.
PS: pra mim, a Larissa/Anitta é o maior alter ego que temos na atualidade, haha. Mas reconheço a Beyoncé e o Eminem também 😊.